A arte do ‘Sojasco’ – Reflexão e dicas

Culturalmente aqui no Brasil as pessoas fazem churrasco para comemorar diversas ocasiões, ainda que o número de veganos e vetarianos esteja crescendo muito nos últimos anos a maioria dos que hoje já são ‘vegs’ não nasceram veganos.

Pra muita gente falar de ‘churrasco vegano’ é um tabu, então antes de passarmos para os ingredientes vou expor a minha opinião sincera sobre o tema.

Na atualidade comer não é algo meramente instintivo, não estamos nos alimentando apenas por questão de sobrevivência, hoje o que chamamos de ‘comer bem’ é um exercício de sociabilidade e integração com o meio.

Você já parou pra pensar por que é que as crianças gostam mais de uma marca de comida do que de outra até quando se trata do mesmo alimento? Ou por que desenvolvemos maior paixão por uma receita em especial mesmo quando ela não tem nada de mais?!

Somos influenciados pelas pessoas e mídias que nos rodeiam e somos seres dotados de ‘memórias gustativas’, eu mesma me lembro do cheirinho e do sabor aconchegante do brigadeiro que a minha mãe fazia pra mim durante as tardes chuvosas, ainda hoje todas as vezes que faço pipoca lembro de como eu e meus vizinhos gostávamos de fazer maratonas de filmes e passávamos a tarde inteira comendo pipoca, ou o cheirinho de pão na chapa no final da tarde que me lembra a mãe da Laura que sempre fazia um lanche especial para nos servir durante as brincadeiras…

Dentre tantos cheiros, sabores e memórias surge o desejo de fazer algo socialmente bom (a reunião de pessoas queridas, a bagunça entre amigos, o clima caloroso ao redor de uma ‘churrasqueira’ em uma tarde de domingo por exemplo) sem o ônus da exploração animal, eu me lembro dos domingos de verão onde o cheiro do churrasco se misturava com o do cloro da piscina e entre um mergulho e outro eu dava uma beliscada em algo…

Por mais que eu tenha mudado completamente a minha forma de me alimentar é impossível deletar as memórias que são provenientes de uma época onde eu vivia em outra ‘realidade’ e seria
uma grande besteira mentir dizendo que eu não gostava de todo aquele contexto, porque embora a comida fosse apenas um pano de fundo, pois a saudade que fica não é do brigadeiro mas sim do cuidado da minha mãe, não é da pipoca e sim da amizade com meus vizinhos e nem mesmo do pão na chapa mas das risadas que eu dava com a Laura, a comida sempre esteve presente para compor essas memórias… E hoje vejo completamente natural  tentar resgatar esses momentos adaptando-os para que se tornem condizentes com aquilo que adotei como filosofia.

Quando me tornei vegetariana tinha 17 anos, minha família me questionou se nunca mais poderíamos comer uma pizza juntos ou comer um churrasco feito num domingo a tarde…Na época eu não entendia nada de cozinha e nem das mil e uma possibilidades que o veganismo me oferece hoje e dramaticamente falei que ‘não’, mas nos anos que seguiram eu busquei me aprimorar e trabalhei duro pra que a minha mudança (e posteriormente também a mudança da minha mãe para o vegetarianismo) não fosse motivo para o afastamento  e sim da aproximação das pessoas.

Eu consegui provar que fazer pizza vegana não é problema e que não se perde sabor nem diversão na hora de sentar a mesa para um ‘rodizio caseiro de pizzas veganas’ preparadas por mim… Faltava o danado do churrasco…

Eu nunca tinha feito churrasco sozinha apesar de já ter participado de muitos, este ano fiz o meu primeiro ‘sojasco’, que foi um tremendo desafio, pois além de não ter experiência  e nem muita intimidade com uma churrasqueira eu estava preparando espetinhos veganos para agradar pessoas que estavam também comendo carnes.

Considere este post mais como um ‘manual’ do que deu certo pra mim  e use a criatividade para fazer do seu modo, então não vá pensando que esta é uma receita, encare como uma dica de quem sofreu um pouquinho como todo ‘marinheiro de primeira viagem’ mas que conseguiu bons resultados e elogios.

Ingredientes que eu usei para fazer o espetinho:

Tofu bem firme
Proteína de soja
Batata inglesa com casca e tudo
Batata doce com casca e tudo
Temperos variados

 

O que foi direto pra churrasqueira:

Milho verde
Bananas

O que usei e achei que não combinou:

Shitake – pois ficaram ressecados e perderam o sabor.

Como preparei

Eu deixei o tofu cortado em cubinhos de molho em água bem temperadinha com curry, páprica, sal e orégano… Isso deixou o tofu com um sabor muito bom que lembrava o queijo minas e depois que assei o gosto ficou bem agradável.

Eu hidratei a proteína de soja em água morna temperada (pimenta do reino e cominho e sal), escorri e espremi bem, refoguei com bastante alho, mais pimenta do reino e cominho e shoyu.

As batatas foram postas cruas picadinhas em pedaços não muito grossos.

Eu hidratei e temperei o shitake, mas quando ele foi pra churrasqueira ficou ressecado e o sabor não me agradou muito, meus amigos disseram que ficou bom, mas preciso ser sincera com vocês, o shitake é ótimo para ser usado em muitas receitas, mas essa não é a melhor forma de usá-lo.

Desvendando a churrasqueira

Os primeiros espetinhos tostaram um pouco,
como eu e meu namorado não tínhamos nenhuma experiência em fazer ‘churrasco’ não sabíamos que poderíamos controlar a intensidade do fogo apenas jogando água… Coisa simples porém não muito óbvia pra quem nunca teve muito contato com churrasqueiras.

Você precisa deixar o fogo baixo, caso a churrasqueira seja elétrica isso é mais simples de controlar, no nosso caso não era… O tofu e a proteína de soja não precisam ficar muito tempo na brasa porque já estão prontos pra consumo, mas as batatas demoram um certo tempo para ficarem macias e ai entra a grande jogada! Tenha junto de si um canequinho com água levemente
salgada e umedeça as batatas (mas o bom é jogar água em tudo porque você sabe como fica a proteína sem água né?!), fique de olho no tofu, ele queima rápido.

Se você quiser (e isso vai dar um pouco mais de trabalho) cozinhe um pouco as batatas antes  de colocar no palitinho.

Essas batatas ficam ressecadinhas por fora e macias por dentro, parecem batatas fritas bem rústicas, eu amei o sabor e a textura.

Você pode umedecer com shoyu os espetinhos antes de colocá-los na churrasqueira, mas não fique só molhando com shoyu pois se fizer isso você terá um problema sério com o sabor forte depois!

Coloquei na churrasqueira umas espigas de milho e umas bananas, o milho ficou maravilhoso, adocicado e macio, muito mais saboroso do que qualquer outro milho feito mergulhado em água. Depois que  as bananas ficaram com a casca bem pretinhas partimos e colocamos canela, elas ficaram bem saborosas como sobremesas.

Ingredientes que entrarão no próximo

Abacaxi – se você tiver uma churrasqueira grande basta colocá-lo inteiro, eu já comi e aprovei, dessa vez não usei porque estava viajando e a churrasqueira era realmente pequena.

Azeitonas – tenho certeza que elas dariam um toque especial.

Pão com alho

Bem, e as outras receitinhas típicas que podem somar em sabor é o arroz, farofa, maionese de tofu misturada com batatas, cenouras, cebola e maçã…

Mas o que faz um churrasco ou um sojasco ser bom mesmo  é a companhia dos amigos, uma boa música e muito tempo para conversar e trocar ideias!

Considerações finais

Sempre podemos adaptar e modificar na cozinha, se tornar vegano não precisa ser sinônimo de isolamento social, você não precisa abrir mão do convívio com seus amigo nem da construção de novas ‘memórias gustativas’.

Nas minhas memórias de infância eu carrego o cheiro do churrasco feito com carne de animais, mas hoje eu sei que é possível fazer churrasco vegano com um cheirinho ainda mais saborosos e especial e é por isso que tenho certeza que quando meus filhos tiverem a idade que tenho hoje carregarão consigo memórias tão boas quanto as minhas, só que com cheirinho de ‘sojasco’… Somos responsáveis pelas memórias que teremos no futuro e se nos esforçarmos de verdade teremos muita história pra contar!

Um beijos libertário para todos vocês e a ultima dica: Não desistam de mostrar que é possível adaptar tudo, tirando o ônus da exploração animal  mantendo as ‘tradições’!

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