Carnaval por uma ótica vegana

O veganismo é um fenômeno social que veio para sacudir a forma como enxergamos nossas práticas diárias e até mesmo as nossas raízes culturais mais entranhadas em nossa sociedade, não seria diferente com o carnaval, que infelizmente está repleto de exploração animal…

O uso de plumas e penas, de maquiagens e tintas testadas em animais e até mesmo o que se come durante os dias de carnaval mostram o  quanto ainda precisamos lutar para conscientizar as pessoas a respeito do direito dos animais.

A exploração animal é um assunto sério e urgente, enquanto a comunidade vegana não for enfática em cada oportunidade de conscientizar a população as pessoas ainda terão como natural e cultural a banalização da vida de milhares de animais.

Nesse ano de 2017 a escola de samba Águia de Ouro (SP) fez um desfile onde enfatizou a exploração animal e o mais incrível é que a escola não utilizou fantasias com plumas e penas (características das fantasias carnavalescas em todo o país). – Você pode ler mais sobre isso no site do Vista-se clicando aqui.

O movimento vegano tem crescido muito nos últimos anos e tem se organizado para promover diversos tipos de atuações militantes em diferentes frentes, e quanto mais veganos apoiando essas ações mais visibilidade teremos e mais pessoas poderão ter acesso às informações sobre a causa animal.

No Rio de Janeiro, tal como em São Paulo, tivemos um bloco vegano, “Bloco Veganizador”, que contou com diversas paródias abordando assuntos como alimentação, estilo de vida vegana e exploração animal, em clima festivo o bloco vegano atraiu olhares  e curiosos.

O Jornada Vegana entrevistou o Leandro Pagnonceli, organizador do bloco vegano, confira:

JV – Como surgiu a ideia de fazer um bloco vegano?

Desde que iniciei meu ativismo, em setembro de 2015, venho tentando participar do máximo de manifestações que acontecem por aqui. A primeira manifestação que participei, foi também a primeira que propus: A Parada da Consciência Vegana, no dia mundial do Veganismo, em 01/11/2016.

Estive na inauguração do AquaRio, contra a vaquejada e na reinauguração do Zoo.

Entendo que uma das melhoras formas de ativismo é a conscientização e isso se dá no encontro cara a cara com quem ainda não fez a conexão, especialmente nos momentos de consumo com exploração animal.

A ideia do bloco me surgiu como uma estratégia para aproveitar essa ocasião em que muitas manifestações ganham corpo de forma alegre e irreverente e também para demonstrar que vegano e ativista pode ser divertido e sabe curtir a vida como qualquer pessoa.

Leandro Pagnonceli, organizador do bloco veganizador.

JV – Além da celebração e entretenimento o que mais as pessoas que vão ao ‘bloco veganizador’ podem esperar do evento?

O que espero de todas as iniciativas em que participo é promover a conscientização.  Sempre que alguém se mostra interessado em saber mais a respeito do veganismo, pra mim, já valeu a pena.

JV – Você acha que o carnaval é uma época oportuna para o ativismo?

Acho que todo dia, toda hora, todo lugar, toda ocasião é oportunidade. Quem acredita no que faz, sempre encontrará meios de fazer mais, seja como, quando e onde for.

Pensando em conscientização, quanto mais conseguirmos impactar, mais próximo chegaremos da libertação animal, então, quanto mais pudermos pensar em unir forças e pensar em outras estratégias, seremos cada vez mais pessoas, em cada vez mais lugares, com mais e mais frequência até que esse seja o novo paradigma.

 

JV – Você acha que os veganos no Brasil estão engajados em promover mudanças estruturais e culturais confrontando práticas exploratórias inclusive em festas como o Carnaval, onde pouco se fala sobre as questões animais?

No Brasil como um todo, acho que ainda não. Me inspiro muito no movimento dos ativistas em São Paulo, que tem se mostrado um dos mais atuantes. Eles fizeram um evento carnavalesco similar ano passado e até contribuíram com algumas músicas, que incluí no repertório do Bloco Veganizador, mas que acabamos não cantando por falta de conhecimento das melodias origirnais.

Concentração do Bloco Veganizador - RJ

JV -De forma geral, onde a exploração animal acontece no carnaval?

Da mesma forma que vemos acontecer no dia a dia, só que mais… Quantas opções veganas vemos sendo oferecidas nos blocos de rua? Quase nenhuma. Só churrasquinho, salsichão… cervejas da ambev, fantasias com plumas… por aí vai.

Passamos com o bloco perto dos quiosques da Lagoa Rodrigo de Freitas  e cantamos para as pessoas que estavam comendo…Mas pode olhar no cardápio desses quiosques talvez tenha UMA opção Vegetariana e ainda assim, é muito provável que tenha queijo ou ovo… E é só observar as escolhas que a maioria das pessoas ainda faz em todas as oportunidades de consumo.

Acho que hoje, ninguém pode mais dizer que nunca ouviu falar ou não sabe o que é veganismo e tenho a impressão de que muitas pessoas até entendem e até concordam, mas daí a mudar seus hábitos… por isso, temos que estar presentes o máximo que pudermos com ativistas e produtores juntos… levando simultaneamente consciência e opção.

JV -Pensando em pontos específicos de exploração animal que acontecem no carnaval como o uso de penas/plumas… Quais medidas você acha que podem ser tomadas para reduzir ou impedir a exploração animal no carnaval a curto e a longo prazo?

Vejo alguns avanços em outros lugares em questões de legislação de proteção aos animais em que atividades como essa já estão proibidas, mas, pra ser bem franco, eu não acredito muito em proibição. Simplesmente proibir não adianta nada. Quem quiser fazer, vai fazer o que quer que seja, sendo ou não proibido.

Há muitas coisas que precisam mudar na sociedade e acredito que realmente depende muito da conscientização das pessoas para que parem de financiar esse tipo de atividade.

Uma última reflexão.

Se por alguns instantes pararmos para analisar a forma como nós culturalmente celebramos e festejamos qualquer coisa em nossa sociedade, iremos nos deparar com a exploração animal, isso é algo que está entranhado em nós, e justamente por isso muitas vezes não questionamos ou enxergamos a exploração animal.

A proposta vegana para um mundo melhor não é difícil, mas é complexa, é complexa porque exige que nós iniciemos toda a mudança que desejamos ver no mundo em nós mesmos e que nos tornemos exemplos de como é possível viver de forma alternativa, é complexa, ainda, porque requer de nós força para resistir a toda uma cultura que naturaliza a exploração, porém, é extremamente gratificante, pois cada gesto feito em prol dos animais é capaz de salvar muitas e muitas vidas.

Talvez o grande questionamento que devêssemos levantar em relação ao carnaval seja a respeito da nossa alegria precisar se basear no sofrimento dos animais.

Defender o uso de plumas e penas (o ponto central da exploração animal no carnaval) alegando que é isso que faz as fantasias serem luxuosas e belas é o mesmo que socar a criatividade brasileira, pois somos capazes de criar, recriar e inovar de uma forma incrível e não podemos nos reduzir a um tipo de matéria prima, principalmente após tomarmos consciência de que essas penas são arrancadas de forma cruel de animais como gansos, pavões, faisões e avestruzes, animais que ficam confinados em criadouros geralmente na Africa ou em algum país da Asia para abastecer o mercado brasileiro em época de carnaval… Se a beleza de nossa celebração depende da dor e sofrimento de um animal então podemos enxergar o quanto somos realmente feios, e essa é uma feiura moral difícil de esconder.

 Podemos fazer diferente, então no próximo carnaval vá somar forças com os movimentos veganos de sua cidade! Se na sua cidade ainda não há um bloco vegan organize um… Vá pras ruas, faça barulho, chame a atenção, pois nós somos a única voz ativa que os animais possuem e a vida deles depende do nosso empenho em conscientizar as pessoas.

GO VEGAN!

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